A volta dos pinguins de geladeira: kitsch
O estilo pode ser encontrado tanto nas artes visuais como na música, moda, design ou literatura que negam o autêntico exaltando a cópia compulsiva e a artificialidade. Ao que tudo indica, o seu surgimento tem a ver com o Romantismo onde a expressão dos sentimentos ganha formas dramáticas e melodramáticas, mas a noção mais popular é bastante recente e se liga ao furor burguês do século XIX – novos produtos aparecem para agradar à classe média. É a época em que vemos o fenômeno da cultura de massa porque todo mundo queria ter o que todo mundo já tinha.
Os objetos nunca são feitos dos materiais que parecem, por exemplo, a madeira é pintada para parecer mármore, o zinco é bronzeado e bronze é pintado de ouro. Tudo deve ser dissimulado para parecer nobre e então vão aparecendo milhares de miniaturas de Torre Eiffel, de gatos gigantes, anjos, bibelôs com santos, patinhos de porcelana, reproduções d’A última ceia e relógios Rolex falsos e medalhas. Como toque final, vale o uso indefinido e bastante sincrético de fitas, rendas, cores berrantes, flores de biscuit e o que mais a mente humana for capaz de pendurar em uma única coisa. Não há a menor de ser funcional, o grande desejo é enfeitar mesmo.
Nas primeiras décadas do século XX, as produções kitsch passaram a ser duramente atacadas por artistas de vanguarda exigiam sua destruição em nome da criatividade e da não-massificação. Acreditavam que a modalidade impedia o desenvolvimento dos gostos individuais, por exemplo, Milan Kundera, no livro “A Insustentável Leveza do Ser” liga esses objetos super-copiados ao regime totalitário Tcheco. Mas não se pode deixar enganar pelo aspecto patético dessas produções. Elas são, sem dúvidas, criativas e ricas dentro de suas propostas “enfeitadoras” e denunciam uma psicologia social onde vale tudo para se sentir pertencente ao seu meio.
A riqueza desses objetos se prova por estarem ainda em alta; casas de porcelanas, fábricas de potes para cozinha com estampas de vacas ou de artigos religiosos, continuam lucrando com a reprodução desses enfeites. Também, seguindo as tendências retro que invadiram nosso cotidiano, elementos kitsch (usados com bom senso, claro) são o que há de mais cool em matéria de decoração; vivemos o renascimento dos pingüins de geladeira. São um pesadelo somente na hora de limpar.
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